É em nome do amor, e talvez por amor. É com nome próprio e de alma própria. É o lugar onde as palavras são mais do que elas. São simplesmente aquilo que quero que sejam, amor.
É em nome do amor, e talvez por amor. É com nome próprio e de alma própria. É o lugar onde as palavras são mais do que elas. São simplesmente aquilo que quero que sejam, amor.
Fazes-me saltar. Suar. Vibrar. Sonhar. Fazes-me sentir. Chorar. Rir. E amar. Não sei se fui eu que te quis, se foste tu que me escolheste, mas sei que desde daquele dia, seria para sempre. Sim, um amor para sempre. Fizeste-me crescer. Ensinaste-me a amar. Acreditaste em mim. Querida dança: estou grata por numa pequena aldeia te teres cruzado comigo e me teres amado profundamente. Estou grata pelos sonhos que são agora reais e pelas fantasias que fazes cruzar todos os dias na minha imaginação. Estou grata por tanto amor, que me dás. Tu sabes que sem tie sem eles eu seria ninguém. Assim, sou um ninguém muito mais feliz, com alguém que me ensinaste a amar. E que me ama (amam) centenas de vezes por dia.
Talvez exista o céu. O paraíso. A plenitude. Mas sem aviso, sempre. Ela vem. Chega sorrateira, quase que em silêncio e cala todos os sorriso que até ali haviam. Embora a morte me fascine por todo o seu mistério, ela continua a matar e levar-me por aí. Demorei muito tempo. Mas entendi que muitas vezes matar aquilo que nos faz mal, mesmo que seja bom, é saber cuidar de nós. A morte pode ser muito a vezes o norte, do barco que por ali anda há deriva. Não tem Capitão. Não sabe a razão. E esquece o coração. Tive que recorrer a ela, e saber matar sentimentos. Juro que não queria, mas foi em legítima defesa.
O problema do coração, quando no sítio certo, é sentir tudo infinitamente. Eu sei lá quantas vezes já fechei a porta, já virei as costas. Já disse que não. E depois há sempre aquele dia em que és mais forte. Assaltas-me a casa. Entras-me pela janela. Apoderaste da minha cabeça, dos meus sonhos, da minha noite. Sabes qual é o meu problema? Ter o coração no sítio onde tu puseste uma pedra.
Sempre gostei do campo. Das flores. Das borboletas. Dos pássaros. E dos caminhos estreitos, onde brincava quando era criança. Rápido aprendi o que era ser livre. Aquele cheiro. Aquela cor. Aquela calçada. Os pássaros traziam no bico, cantos que embalavam os meus sonhos. E eu ficava a admirar tudo aquilo. Aqueles girassóis eram tão amarelos. Tinham tanta luz. Iluminavam-me. E quase me entravam nariz dentro. Hoje é dia da liberdade. Mas que saudades eu tenho daquela liberdade de correr no campo. De sentir livremente. De ser livremente. Aí que saudade.
Perdi a conta aos heróis que tive. Aqueles que os livros alimentaram. Que filmes vangloriaram. Somando aos que criei na minha imaginação, deixando-os por lá anos a fio. Apaixonei-me por eles e amei-os aficionadamente como se fossem reais, assumindo laços com um sujeito que só conhecia por uma folha de papel. Já passei a idade do príncipe encantado. E continuo afincadamente acreditar que és o meu herói. Aquele que tal e qual como um, a sério, nunca me desilude. És forte. És corajoso. És audaz. És inteligente. És uma chatice de coisas utópicas que quero alcançar. És meta. Partida. Chegada. Eras noite quente do meu lençol. Porque agora o herói já não dorme comigo. Ainda que de sonho paralelo, muitas vezes, o herói anda por aí a ironizar a vida. Tu és o meu herói. E os heróis nunca morrem, nem no fim.
Ler não faz sono, faz sonhos. Hoje queria ler-te. Saber aquilo que pensas. Saber como me gostas e despir os teus medos (...) hoje apetecia-me ler-te, conhecer-me pelos teus olhos. Entender porque gostas de mim. E porque sou sempre eu a escrever, hoje apetecia-me que fosses tu. Que me dirias?"
O rádio sempre foi um parasita na minha vida. Entrava no carro e o ritual? O mesmo de sempre: silenciar os comentadores radiofônicos e as músicas novas, que rapidamente o deixam de ser por se multiplicarem dezenas de vezes em qualquer sintonia FM. Até que ontem, sei lá de onde vinha eu, numa voz quase calada, ouço alguém falar de viagens. Aumento gradualmente o volume da rádio. Quando viajo, adoro andar a boleia. O pensamento teletransportou-me para bem longe daqui, num lugar onde andar à boleia podia até nem ser muito seguro, mas foi seguramente uma grande aventura. Quando se decide caminhar dezessete quilômetros, debaixo de quarenta graus húmidos, atrás de um buraquinho de fundo azul, estava fácil de adivinhar que iria correr menos bem. Se as coisas correm mal, ainda bem, tens histórias para contar. E aí está a minha memória a provar que é melhor do que aquilo que eu a caracterizo. Já depois de muita peripécia, lá encontrei o buraquinho azul, de que nada pude ver, porque a maré estava vaza. Que descrédito. Tantos quilômetros de ousadia para olhar apenas uma rocha funda. Não estava nada satisfeita e na cabeça levava outro objetivo. As pernas é que já não se deixavam levar pelo cansaço, que havia já em mim. Ideia parva: sair do caminho, que esse já era mal traçado, mas pelo meio do deserto certamente não seria menos difícil. Só boas ideias. Só que não. Estava perdida. E do caminho de volta, só se via uma miragem. Até que aparecido pelo lado esquerdo por um caminho de terra, surge um carro. Sim, é a parte da boleia. Entrei no jipe, tagarelei e aquele sujo e humilde senhor, que a primeira vista não seria ninguém importante, era um espécie de engenheiro civil. Em poucas palavras contou-me que era normal andar-se à boleia, e nem sempre sendo seguro a maioria das vezes seria. Ora a partir dali a boleia agrada-me sempre, e já voltei a repetir. Com medo, mas antes isso do que a pé. A próxima viagem só poderá ser de boleia. Só não te poderei levar, não te preocupes, vou levar a memória e conto-te tudo.
Do que tenho de criatividade, falta -me em memória. Sorte a minha, as ideias não ficarem perdidas no baú. Estaria em maus lençóis. Aos vinte seis já dou por mim com lembretes nos dispositivos eletrônicos e papéis pequeninos de cor, colados nas páginas da agenda, delicadamente guardada na minha carteira. Sim, sem estranheza, agora uso carteira. Foram tantas as vezes que te ouvir dizer que ficaria mais elegante. A verdade, é que se não fosse a tua memória, não conseguiria recordar aquele melhor momento, que ficou turvo pelo passar do tempo, ou por aquele copo de vodka premium, em excesso. Lembraste quando... Nunca me lembro. O teu espanto é sempre geral. Não te lembras? A minha memória não é uma lástima. É seletiva. Demasiado. Tem personalidade forte. Contraria aquilo que eu gostava de eternizar e deleta tempos que preferia recordar. Querida memória é com um enorme carinho que te peço: podes memorizar tudo infinitamente, por favor? Neste momento estás um pouco repetitiva e sem graça. Todos os dias ao acordar, o lembrete é o mesmo. E para esse não preciso de recorrer à agenda. Ainda que o acordar seja preguiçoso, a tua memória é bem mais safada do que a minha. Muito gostaria de saber o que te lembras tu, mal saltas da cama. E antes que digas que não te lembras de nada, contrario já. Conheço-te bem. O que dizem os teus pensamentos?
Adoro rir. E tu sabes. Sou prazerosa. Gosto de uma vida de riso. E gosto de fazer rir. Sempre fui muito descontraída e de poucos filtros nas palavras. Nunca quis correr o risco de deixar de ser eu, para depois ter de me dar ao trabalho de cuidar do meu discurso. Demasiado protocolar e fora de mim. Antes, me doa o abdominal de tanto me rir. E rir de mim. Que o tempo me livre não das rugas, mas do envelhecer da alma, ao ponto de não querer gozar mais de mim. E comigo. Não quero nunca ter a sensação de me sentar numa mesa de café e submeter-me à cruel interrogação quem és? A tua cara não me é estranha o teu nome também não. Desculpa, mas não te estou a reconhecer. Olha, contudo senta-te. Bebemos um copo e fumamos um cigarro, quem sabe encontramos um pedaço de ti, perdido. E se assim for, que pelo menos encontres o meu pedaço de rir, porque se há coisa em sempre fui genial, era a fazer-te sorrir. O riso é como um soro de verdade e libertação. Quando voltamos a rir? Jogando pelo seguro, e não vás tu, estar mais perdido do que eu, vou rindo, enquanto não vens. Rindo de mim.
Todos temos um dia ao contrário. Acorda mal disposto e teima conosco o tempo inteiro. Quando me perguntavas o que tinha, a afirmativa era a mesma de sempre: nada. Nunca percebias que era o nada mais abundante que alguma vez te tinha anunciado. Ficava triste. Quieta. Calada. Imota. Enquanto muitos nadas se foram falando, muitos tudos se foram calando, dentro de mim. O nada era a palavra mais cheia de tudo, cuspida pelo meu coração, vazio de ti. E transbordar de nós. Sei agora, que quando me dizes que não tens nada, sentes uma vontade silenciada, a gritar, a presa no teu coração. É como se essa vontade que tens de permanecer comigo, ficasse simplesmente agarrada à intenção que nunca chega a concretizar-se. Não insisto. E deixo-te. Aguardo simplesmente um nada cheio de tudo. E tu já não és mais nada.