Não quero um nada que não seja tudo
Todos temos um dia ao contrário. Acorda mal disposto e teima conosco o tempo inteiro. Quando me perguntavas o que tinha, a afirmativa era a mesma de sempre: nada. Nunca percebias que era o nada mais abundante que alguma vez te tinha anunciado. Ficava triste. Quieta. Calada. Imota. Enquanto muitos nadas se foram falando, muitos tudos se foram calando, dentro de mim. O nada era a palavra mais cheia de tudo, cuspida pelo meu coração, vazio de ti. E transbordar de nós. Sei agora, que quando me dizes que não tens nada, sentes uma vontade silenciada, a gritar, a presa no teu coração. É como se essa vontade que tens de permanecer comigo, ficasse simplesmente agarrada à intenção que nunca chega a concretizar-se. Não insisto. E deixo-te. Aguardo simplesmente um nada cheio de tudo. E tu já não és mais nada.