A minha memória não é uma lástima, é seletiva
Do que tenho de criatividade, falta -me em memória. Sorte a minha, as ideias não ficarem perdidas no baú. Estaria em maus lençóis. Aos vinte seis já dou por mim com lembretes nos dispositivos eletrônicos e papéis pequeninos de cor, colados nas páginas da agenda, delicadamente guardada na minha carteira. Sim, sem estranheza, agora uso carteira. Foram tantas as vezes que te ouvir dizer que ficaria mais elegante. A verdade, é que se não fosse a tua memória, não conseguiria recordar aquele melhor momento, que ficou turvo pelo passar do tempo, ou por aquele copo de vodka premium, em excesso. Lembraste quando... Nunca me lembro. O teu espanto é sempre geral. Não te lembras? A minha memória não é uma lástima. É seletiva. Demasiado. Tem personalidade forte. Contraria aquilo que eu gostava de eternizar e deleta tempos que preferia recordar. Querida memória é com um enorme carinho que te peço: podes memorizar tudo infinitamente, por favor? Neste momento estás um pouco repetitiva e sem graça. Todos os dias ao acordar, o lembrete é o mesmo. E para esse não preciso de recorrer à agenda. Ainda que o acordar seja preguiçoso, a tua memória é bem mais safada do que a minha. Muito gostaria de saber o que te lembras tu, mal saltas da cama. E antes que digas que não te lembras de nada, contrario já. Conheço-te bem. O que dizem os teus pensamentos?